De muitas maneiras, somos escravos de um complexo de culpa por nos dedicarmos a atividades várias, às demandas da nossa profissão, quando a igreja e o “trabalho do Senhor” clamam por atenção, ação e envolvimento. Somos, portanto:
- Escravos de uma visão que separa o secular do sagrado; o ganha-pão da adoração; a honestidade da prática cristã da desonestidade e descaminho dos negócios.
- Escravos de uma visão curta que não enxerga a amplitude dos princípios apresentados nas Escrituras – de um Deus que é todo o poderoso, criador e mantenedor do universo; que não nos deu, na Palavra, apenas um manual acanhado de Escola Dominical, mas um conceito e uma compreensão de vida que deve permear toda a nossa existência.
No meio desse dilema e dessas tensões, cabe relembrar a força libertadora dessa escravidão e opressão intelectual que foi a Reforma do Século 16. É exatamente a fé reformada, que é acusada por tantos de promover a escravidão das pessoas, pela sua rigidez doutrinária e subordinação ao conhecimento transcendente encontrado nas Escrituras, que nos liberta desse dilema.
A Reforma do Século 16 reapresentou a pessoa de Deus em toda a sua soberania e majestade aos fiéis que estavam cegos pelo humanismo e obscurantismo reinante na estrutura eclesiástica da época. A Fé Reformada não tratou simplesmente, de realizar uma INTEGRAÇÃO entre o secular e sagrado, mas de demonstrar a abrangência das raízes espirituais de cada atividade, tornando o todo do conhecimento e das atividades humanas algo abrigado e aprovado pela providência divina, subsistindo o próprio Deus como fonte de todo o verdadeiro conhecimento e sabedoria.
É nesse contexto que se desenvolve a ideia e o conceito da Educação Escolar Cristã. Uma proposta de educação que se harmoniza em sua totalidade com a revelação especial de um Deus soberano que tem na humanidade a coroa da criação e a quem delegou a absorção do conhecimento necessário a administrá-la. Educar, nesse sentido, não significa apenas transmissão de conhecimentos, ou instrução relacionada especificamente com religiosidade ou adoração. Difere da apreensão de princípios bíblicos recebidos na Escola Dominical ou da presença nos trabalhos eclesiásticos dos domingos. A esse tipo de instrução caberia o nome mais adequado de “educação religiosa”.
Educação Escolar Cristã significa o processo de penetração em todas as áreas do conhecimento humano, como preparo para o exercício de toda atividade moralmente legítima, sob a perspectiva de que Deus tem soberania sobre cada uma dessa áreas. Nenhuma área do saber pode ser adequadamente compreendida quando estudada ou transmitida divorciada do conceito de Deus que temos nas Escrituras. Quando praticada adequadamente, esta herança maravilhosa da Reforma do Século 16 nos apresenta um esse grande aspecto libertador: A Libertação pela Legitimidade de Envolvimento com todas as Áreas de Conhecimento.
Foi a teologia da reforma que enfatizou a educação sob esse prisma e que demonstrou o entrelaçamento da divindade com todos os aspectos da nossa existência. É ela que libertou o intelecto humano – na essência e verdade dessa expressão. O homem moderno e pós-moderno se julga liberto “dos dogmas da religião”, mas prossegue se aprofundando na escravidão do pecado, embotando os seus sentidos. Agradeçamos a Deus a libertação ampla, geral e irrestrita que a salvação nos proporciona – fundamentada em sua graça e misericórdia. Abracemos, em toda a sua amplitude, a liberdade de entendimento que foi reavivada pela Reforma do Século 16. Pratiquemos o verdadeiro conceito da Educação Escolar Cristã.
Solano Portela
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